Entender as plataformas e ferramentas é crucial, mas a liderança de marketing eficaz hoje também exige navegar por tensões estratégicas fundamentais. São debates que moldam onde investimos nosso tempo, dinheiro e energia, e que definem o futuro das nossas marcas. Vamos encarar de frente alguns dos dilemas mais quentes que estão na mesa dos líderes de marketing em 2025.
1. Branding vs. Performance: O Eterno (e Essencial) Equilíbrio
Este é, talvez, o debate mais clássico e persistente: onde colocar a maior parte da verba? Em ações que constroem a marca a longo prazo (Branding) ou em campanhas focadas em gerar vendas e leads imediatos (Performance)?
Muitos buscam uma resposta mágica, uma proporção ideal. Estudos como os de Binet & Field sugerem um benchmark médio de 60% para Branding e 40% para Performance para otimizar o crescimento sustentável. Mas, atenção: isso é uma média. A proporção ideal para a sua empresa depende do seu mercado, da maturidade da sua marca, dos seus objetivos de negócio. O importante é entender a natureza de cada investimento:
- Performance (Ativação de Vendas): Traz resultados rápidos e mensuráveis. Você investe hoje, gera leads ou vendas amanhã. É ótimo para bater metas de curto prazo, responder a pressões trimestrais e provar ROI rapidamente. O problema? Seu efeito geralmente dura apenas enquanto a campanha está no ar. Parou de investir, o resultado some. Além disso, focar excessivamente em performance pode comoditizar sua marca – você passa a brigar apenas por preço, oferta e leilão de mídia contra concorrentes que fazem o mesmo. Isso achata margens e não constrói lealdade duradoura. Uma campanha de performance resolve o fim do mês, mas não garante a longevidade da empresa.
- Branding (Construção de Marca): É um investimento de longo prazo. Os resultados não são imediatos e são mais difíceis de atribuir diretamente a uma venda específica. No entanto, é o branding que constrói os ativos mais valiosos na mente do consumidor: lembrança, preferência, confiança, percepção de qualidade e valor. Uma marca forte permite praticar margens maiores, atrai clientes mais qualificados (que muitas vezes procuram você, e não apenas o mais barato), cria uma barreira contra a concorrência e gera um crescimento de base mais sólido e sustentável ao longo do tempo. É o que garante que sua empresa continue relevante daqui a 5 ou 10 anos.
O equilíbrio Branding vs. Performance: buscando crescimento sustentável (Conceito baseado em Binet & Field).
O erro não é escolher um ou outro, mas sim desequilibrar a balança por muito tempo. Negligenciar o branding em nome da performance imediata é uma receita para a irrelevância futura. Negligenciar a performance em nome de um branding etéreo é uma receita para não pagar as contas do mês seguinte. O desafio estratégico é encontrar o mix certo para cada momento do negócio, usando dados e ferramentas de atribuição (como as que vimos no capítulo anterior) para tentar entender o impacto real de cada frente.
2. A Ascensão do Marketing Sem Clique (Zero-Click): Adaptar ou Morrer?
Outra mudança fundamental que desafia os modelos tradicionais é a ascensão do "Marketing Sem Clique" ou "Zero-Click". O que é isso? É a tendência crescente das grandes plataformas digitais – Google, Facebook, Instagram, TikTok – em manter o usuário dentro de seus próprios ecossistemas, em vez de enviá-lo para sites externos.
Pense bem:
- No Google: Quantas vezes você busca algo e obtém a resposta diretamente na página de resultados – a previsão do tempo, a definição de uma palavra, as calorias de uma maçã, um painel com informações sobre uma personalidade – sem precisar clicar em nenhum link? O Google quer ser o destino final da informação.
A tendência do Zero-Click: respostas diretas na SERP diminuem cliques para sites.
- Nas Redes Sociais: Os algoritmos claramente favorecem conteúdos que mantêm o usuário na plataforma. Posts com links externos geralmente têm alcance reduzido. Vídeos, carrosséis, enquetes, lives – tudo é pensado para o consumo acontecer ali mesmo. Gerar tráfego para fora ficou mais difícil e, muitas vezes, só é viável através de anúncios pagos.
A aba "Explorar" do Instagram, impulsionada por Reels, é chave para descoberta.
Quais as implicações estratégicas disso?
- Menos Tráfego Direto: O volume de tráfego orgânico ou direto vindo dessas plataformas para o seu site tende a diminuir.
- Necessidade de Estratégias In-Platform: Sua marca precisa aprender a construir relacionamento, gerar leads (com formulários nativos, por exemplo), engajar a comunidade e até vender dentro das próprias plataformas.
- Repensar o Funil: O modelo clássico de atrair o usuário para o seu site e nutri-lo ali precisa ser revisto. Muitas vezes, a jornada do cliente começa e termina dentro de um único ecossistema digital.
Isso não significa que seu site se tornou inútil (ele ainda é seu território proprietário, crucial para conversões complexas e branding profundo), mas sim que a dependência de cliques vindos das grandes plataformas como principal motor de tráfego precisa ser questionada e complementada com estratégias nativas.
3. Orgânico vs. Pago: Uma Falsa Dicotomia?
Ligado ao debate anterior, vem a questão do conteúdo orgânico versus pago. Com o alcance orgânico nas redes sociais beirando o zero para páginas de marcas, ainda vale a pena investir tempo e recurso em posts não patrocinados?
A resposta curta é: depende do objetivo estratégico.
- Mídia Paga: É o motor principal para escala, alcance previsível e segmentação precisa. Quer garantir que sua mensagem chegue ao público certo, no volume certo? O investimento em anúncios (Google Ads, Meta Ads, TikTok Ads, LinkedIn Ads, etc.) é indispensável na vasta maioria dos casos.
- Mídia Orgânica: Seu papel mudou. Hoje, ela serve estrategicamente para:
- Laboratório de Testes: Postar organicamente permite testar formatos, mensagens e ângulos com um público menor (ou seus seguidores mais engajados) para entender o que ressoa antes de escalar o investimento em mídia paga. É usar o orgânico para informar e otimizar o pago.
- SEO e Presença Local: Em buscas no Google (orgânico e GMB), o conteúdo não pago ainda é fundamental e dominante.
- Engajamento Comunitário: Responder comentários, interagir em grupos, nutrir seguidores fiéis – ações orgânicas que constroem relacionamento.
- Conteúdo de Longa Cauda/Autoridade: Publicar artigos de blog otimizados para SEO, materiais ricos, etc., que atraem tráfego qualificado ao longo do tempo.
Portanto, não é uma questão de "ou um ou outro". É entender que o pago é a regra para alcance, e o orgânico tem funções táticas e estratégicas específicas que, se bem utilizadas, podem potencializar (e baratear) o resultado do pago.
4. Remarketing: A Arte de Não Desperdiçar Interesse
Por fim, dentro das táticas essenciais, não podemos deixar de falar do Remarketing (ou Retargeting). Em um mundo onde a conversão raramente acontece no primeiro impacto, ignorar o remarketing é literalmente deixar dinheiro na mesa.
A lógica é simples: por que não impactar novamente, com uma mensagem talvez mais específica ou uma oferta, aquele usuário que já demonstrou algum interesse na sua marca – visitou seu site, colocou um produto no carrinho, assistiu a um vídeo, engajou com um post?
O remarketing reconhece a natureza não linear da jornada do cliente. Ele permite que sua marca continue presente durante a fase de consideração, aumentando significativamente as chances de conversão. O ROI das campanhas de remarketing costuma ser muito superior ao de campanhas de aquisição pura, justamente por falar com um público já "aquecido". É uma peça fundamental para otimizar todo o investimento feito nas etapas anteriores do funil.
5. Segmentação Eficaz: A Arte de Falar com Quem Realmente Importa
Já estabelecemos que precisamos equilibrar branding e performance, adaptar-nos ao zero-click e usar estrategicamente o orgânico e o pago. Mas nada disso adianta se a sua mensagem, por mais brilhante que seja, estiver sendo entregue para as pessoas erradas. E aqui, preciso confessar, é onde vejo muitas estratégias digitais derraparem feio, especialmente quando lidamos com produtos ou serviços de nicho ou de alto valor.
Deixe-me contar uma história real que vivenciamos na 80 20 Marketing. Fomos contratados por uma vinícola com um posicionamento extremamente premium. Além dos vinhos de alta gama, eles criaram um produto absolutamente único e aspiracional: a possibilidade de indivíduos terem sua própria micro-vinícola dentro da propriedade deles. Imagine: a vinícola planta, cuida das uvas, processa, engarrafa e coloca o seu rótulo personalizado. Um sonho para amantes de vinho com alto poder aquisitivo.
A segmentação precisa buscar sinais distintivos do público-alvo real (Ex: Casa de Uco).
O desafio era claro: como encontrar, nas plataformas digitais, essas pouquíssimas pessoas no Brasil que não apenas amam vinho, mas têm condições financeiras e o desejo de investir em um projeto como esse?
A equipe responsável pela mídia paga (o que chamamos de "tráfego" ou "performance") foi para a plataforma de anúncios do Meta (Facebook/Instagram) com a melhor das intenções. Pensaram: "Ok, precisa ser alguém com dinheiro e que goste de vinho". E montaram a seguinte segmentação:
- Comportamento: Viajantes internacionais frequentes (afinal, quem viaja para fora tem dinheiro, certo?)
- Interesses: Vinho tinto, Vinho branco, Vinho (para garantir que gostassem de vinho).
A plataforma, então, mostrou o resultado: um público estimado entre 22 e 26 milhões de pessoas no Brasil! A equipe ficou animada: "Uau, que potencial enorme!".
Só que aí acende o alerta vermelho!
Exemplo de segmentação no Meta Ads que gerou público amplo, mas equivocado.
A armadilha da segmentação superficial: público estimado gigante (22-26M), mas pouco qualificado.
Pensem comigo: 22 milhões de brasileiros têm condições de ter sua própria vinícola particular? Óbvio que não! O que deu errado?
A segmentação foi superficial e baseada em sinais completamente equivocados:
- "Viajantes internacionais frequentes" inclui desde o executivo que voa de primeira classe para a Europa até o estudante que faz mochilão de ônibus pela América do Sul. É um indicador de viagem, não necessariamente de alta renda nos moldes que precisávamos.
- "Interesse em Vinho" é ainda pior. Inclui desde o conhecedor que compra safras raras até quem toma vinho de garrafão no fim de semana. Na prática, essa segmentação pegou uma massa gigantesca de pessoas cujo perfil era o oposto do desejado.
Esse caso ilustra perfeitamente a armadilha das categorias de interesse genéricas e aspiracionais nas plataformas de anúncio. Querer uma Ferrari não significa poder comprar uma. Gostar de vinho não significa poder bancar uma safra personalizada.
Então, como fazer certo?
A segmentação eficaz começa antes de abrir a plataforma de anúncios. Começa com um mergulho profundo no Perfil de Consumidor Ideal (ICP). Quem realmente é essa pessoa? Onde ela mora? O que ela consome? Quais são seus hábitos distintivos e exclusivos?
Em vez de "vinho", talvez o interesse correto fosse "vinhos da Borgonha safra X" ou "assinatura da revista Y especializada em vinhos raros". Em vez de "viagens internacionais", talvez fosse "frequentadores de resorts de golfe de luxo" ou "proprietários de segunda residência em Aspen". São sinais muito mais precisos, que excluem a massa e focam no nicho real.
É procurar pelos sinais da Fendi, não da Louis Vuitton falsificada; pelo interesse naquele museu específico em Paris que só quem foi conhece, não por "arte" em geral.
E sempre, sempre use o teste de sanidade: o tamanho do público estimado pela plataforma faz sentido com a realidade do mercado para o seu produto? Se a resposta for "não", volte e refine sua segmentação. É melhor impactar 10 mil pessoas certas do que 10 milhões erradas.
A lição aqui é clara: segmentação digital eficaz não é sobre clicar em meia dúzia de interesses óbvios. É um trabalho de inteligência, de compreensão profunda do seu cliente ideal e de busca por aqueles sinais únicos e distintivos que realmente o identificam, garantindo que seu investimento em marketing fale com quem pode e quer ouvir (e comprar).
6. Otimização de Conteúdo: A Batalha pela Atenção nos Primeiros Segundos
Tão importante quanto saber para quem falar é saber como falar. Em um ambiente de abundância de informações e atenção fugaz, um conteúdo mediano, por mais bem segmentado que seja, simplesmente não funciona. A otimização do conteúdo em si tornou-se uma arte e uma ciência indispensável.
Alguns pilares são inegociáveis no cenário atual:
- O Gancho de 3 Segundos: Esqueça introduções lentas. Nos formatos de consumo rápido (Reels, Shorts, TikTok), você tem literalmente de 1 a 3 segundos para capturar a atenção antes que o dedo arraste para o próximo vídeo. Isso exige impacto imediato: uma pergunta provocativa, uma imagem chocante (no bom sentido!), uma declaração forte, um movimento rápido. E, por favor, elimine a "pausa do milênio" – aquele segundo de hesitação antes de começar a falar para a câmera. Comece falando antes de apertar o REC, se precisar, mas não desperdice esse tempo precioso.
Análise de dados nativa das plataformas (ex: Instagram Insights) também é crucial.
- Humanização e Autenticidade: Pessoas se conectam com pessoas. Mesmo representando uma marca, encontre formas de trazer rostos, vozes e histórias reais para sua comunicação. Menos verniz corporativo, mais autenticidade. Lembre-se da máxima "documente, não crie": muitas vezes, mostrar os bastidores reais, o processo, as pessoas por trás da marca, conecta muito mais do que uma produção publicitária super elaborada e impessoal.
- Adaptação ao Formato é Rei: O mesmo assunto precisa ser contado de maneiras diferentes. Um Reels não é um Story, que não é um Carrossel. Cada formato tem sua linguagem, seu ritmo e a expectativa do usuário. Entender e respeitar as particularidades de cada formato dentro de cada plataforma é crucial para que seu conteúdo não pareça um "peixe fora d'água".
- Relevância e Valor Acima de Tudo: Seu conteúdo precisa ser genuinamente interessante, útil ou divertido para o seu público-alvo. Em um mar de informações, apenas o conteúdo que entrega valor real se destaca. Isso pode vir de insights exclusivos (Expertise), de um ponto de vista bem fundamentado (Autoridade) ou simplesmente da confiabilidade da informação (Trustworthiness – lembra do EEAT?).
Os princípios do EEAT (Experiência, Expertise, Autoridade, Confiabilidade) são cruciais para relevância.
A régua subiu: é melhor ter menos peças de conteúdo, mas que sejam impactantes, do que uma enxurrada de posts esquecíveis. Otimizar conteúdo não é uma tarefa única, mas um processo contínuo de entender profundamente seu público, experimentar com formatos e mensagens, analisar o que funciona (voltamos aos dados!) e buscar incansavelmente formas de entregar valor e capturar a atenção nesses preciosos segundos que temos disponíveis.
Navegar por esses debates – o equilíbrio entre construir marca e vender hoje, adaptar-se à era do zero click, usar estrategicamente o orgânico e o pago, e não desperdiçar o interesse gerado com o remarketing – exige mais do que conhecimento técnico. Exige visão estratégica, flexibilidade para testar e adaptar, e um entendimento profundo do comportamento do consumidor e dos objetivos do negócio. Não existem respostas únicas ou fáceis, mas a clareza sobre essas tensões é o que permite aos líderes de marketing tomar decisões mais conscientes e eficazes para impulsionar suas marcas em 2025 e além.